- Área: 60 m²
- Ano: 2016
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Fotografias:Haruo Mikami
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Fabricantes: Eliane, Madipê
Descrição enviada pela equipe de projeto. Após uma longa e malsucedida reforma e à espera do 1o filho, um jovem casal de designers se viu em uma encruzilhada: reformar novamente ou vender o apartamento. A decisão não era fácil, de um lado o “estresse da obra” e do outro, o apego emocional com a história do edifício.
Projetado entre as décadas de 60 e 70 pelo arquiteto Mario Bakaj, a edificação com a estrutura marcante em concreto aparente, e fachada revestida em tijolinho e cobogós de cerâmica, faz parte do conjunto de blocos residenciais da superquadra 410 norte, em Brasília-DF, construído com a finalidade de abrigar as habitações de interesse social.
Originalmente composto por sala, cozinha, área de serviço, dependência de empregada, banheiro social e dois quartos, o apartamento passou ao longo dos anos por sucessivas reformas mal planejadas que o descaracterizaram e geraram problemas. A conversão da dependência de empregada em área social, tornou a sala um espaço fragmentado e mal aproveitado, o fechamento dos cobogós prejudicou a iluminação e a ventilação, a parede de tijolos original foi coberta por uma camada de massa de tinta, a área de serviço foi ignorada e precisou ser adaptada dentro da cozinha. Diante disso, os moradores nos solicitaram um projeto que abrigasse as novas necessidades da família, tornando o espaço funcional e moderno mas que ao mesmo tempo resgatasse um pouco da originalidade da habitação.
O ponto de partida do projeto foi a criação de um novo eixo de circulação, marcado de forma sutil pela diferenciação de piso, que permeia o apartamento, separando as funções de estar do jantar e serviços, e que culmina no hall de acesso aos quartos. Ao mesmo tempo, um elemento de marcenaria integra visualmente os ambientes de estar, jantar e circulação, permitindo uma leitura clara e completa do espaço. Esse grande painel, funciona como peça articuladora dos demais cômodos, abriga os compartimentos que servem de apoio à sala, cozinha, área de serviço e o acesso ao banheiro social. A superfície de madeira criada faz um contraplano as grandes janelas de vidro do apartamento e reforça a linearidade da planta.
A madeira empregada tanto na marcenaria como no piso de tauari remetem à memória afetiva dos moradores, trazendo aconchego em contraponto à dureza do concreto aparente. A decisão em revelar o concreto das vigas e pilares ganhou reforço quando, durante a obra, descobrimos que a laje estava apenas emassada, permitindo ser descascada e deixada em seu estado original.
Procurou-se valorizar os elementos de concreto por meio de uma eletrocalha presa à viga que percorre toda a extensão da sala, fazendo a iluminação geral, indireta e difusa. Trilhos foram utilizados devido à sua versatilidade, preservando a estrutura de concreto e criando focos de luz direcionados aos diversos quadros que os proprietários já possuíam. Os cobogós foram resgatados, assim como os tijolos aparentes na sala.
A cozinha que está semi-integrada à área de convívio ganhou um painel geométrico de azulejos, desenhado pelo próprio Estúdio, em referencia a um dos grandes marcos da cidade, os painéis de Athos Bulcão.